Por Miguel Caetano – Dezembro de 2000
Nos finais do século XIX surgiram em Lisboa alguns membros de uma família Lupi, cuja ligação com os anteriormente referidos não está identificada.
Em 1791 embarcou em Lisboa com destino para Goa, na nau “N.ª Sr.ª da Conceição e Santo António”, Vicente Lupi, natural de Roma, onde nasceu em 1773, filho de Miguel Angelo Lupi e de Vicencia Lupi[8].
Em 1797 encontrava-se em Lisboa, em casa dos Marqueses do Louriçal[9], o pai de Vicente, Miguel Angelo Lupi e, no final deste mesmo ano, chegou a Lisboa seu filho Francisco, que se fixou em Portugal e aqui constituiu família[10].
Francisco Lupi nasceu em Perugia, então cidade do Estado Pontifício. Ao chegar a Lisboa, em Dezembro de 1797, visitou seu pai, que estava alojado em casa dos Marqueses do Louriçal, onde também habitava nessa altura Mgr. Pacca, Núncio Apostólico em Portugal, através do qual conheceu Mgr. Caleppi, que veio a suceder aquele, em 1802, no cargo de Núncio. Em 1806, vagou na Nunciatura o cargo de “escrivão dos breves”, tendo Mgr. Caleppi convidado Francisco Lupi para o exercer.
A partir deste ano, e apenas com um breve intervalo em 1818, Francisco Lupi trabalhou na Nunciatura, desempenhando na altura da sua morte o ofício vitalício e hereditário de “Registatore delle Bolle e Brevi di Nunziatura”[11].
Casou com Maria Soriana do Carmo, de quem teve seis filhos: José Maria Melchiades (n.1809), Joaquim José do Nascimento (n.1810), Carlota, João Evangelista, Miguel Angelo (n.1826) e Maria José[12].
José Maria Melchiades Lupi nasceu em Lisboa, na freguesia de Nª. Sr.ª. da Ajuda, e do registo consta ser “de Nação Romana”. Casou com Maria Cândida Corrêa, natural da mesma freguesia, na igreja de N.ª Sr.ª dos Mártires. Foi funcionário do Banco de Portugal.
Teve quatro filhos, mas três morreram em 1844, durante uma epidemia de escarlatina, e apenas Samuel chegou à idade adulta. José Maria morreu em 1867, no lugar do Caramão da Ajuda[13].
Joaquim José do Nascimento Lupi nasceu em Lisboa em 1810. Sucedeu a seu pai no ofício de “Registatore delle Bolle e Brevi di Nunziatura”. Posteriormente foi Director Geral da Fazenda Pública e “houve mercê de conselheiro da Rainha D. Maria II e dos Reis D. Pedro V e D. Luís I”, tendo sido agraciado com as comendas das Ordens de Cristo e de Nª. Senhora da Conceição de Vila Viçosa, da Ordem de Alberto o Valoroso da Saxónia, e com o grande oficialato da de S. Maurício e S. Lázaro de Itália, etc.[13]. Joaquim José casou com Bernarda Amélia das Dores e tiveram dois filhos, Eduardo e Adelaide, esta sem descendência.
Sobre Carlota Lupi não se dispõe de qualquer informação. Julga-se que terá morrido solteira.
João Evangelista Lupi sucedeu a seu irmão Joaquim José no ofício de “Registatore delle Bolle e Brevi di Nunziatura”[18]. Teve uma filha, Maria Inês.
Miguel Angelo Lupi estudou na Academia de Belas-Artes de Lisboa. Por não dispor de meios de fortuna foi obrigado a ganhar a vida desempenhando funções burocráticas na Imprensa Nacional e no Tribunal de Contas, com colocações em Angola e no Porto, com prejuízo da sua carreira como pintor. Só em 1860 foi reconhecido o seu talento, e o governo estabeleceu-lhe uma pensão para estudar em Itália (Roma). Foi posteriormente nomeado lente efectivo da Academia de Belas-Artes, na cadeira de pintura histórica[20].
Morreu em Lisboa, em 1883, solteiro, mas tendo perfilhado dois filhos, Adelaide Angelo e Joaquim Fernando[21]. Sabe-se que Adelaide Ângelo casou com o Eng.º Artur Cohen e que tiveram uma filha, Dulce, poetisa conhecida com o pseudónimo de Maria Valupi; esta casou com o advogado António Osório de Castro, não tendo tido descendência.
Maria José da Anunciação Lupi casou com António Bandeira de Melo e tiveram três filhos, Vicente, Carlos e Eugénio, dos quais se sabe que há descendência, embora não esteja identificada.
[8] V. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, a qual refere como fonte directa o “Catálogo dos Livros do Assentamento da Gente de Guerra que veio do Reino para a Índia desde 1731 até 1811”, por J.A. Ismael Gracias, publicado em Nova Goa em 1893.
[9] O 3º Marquês do Louriçal e 7º Conde da Ericeira foi D. Henrique de Menezes, que faleceu em 1787, tendo estado como embaixador em Madrid, encarregado de negociar em 1785 os contratos matrimoniais dos infantes de Portugal e de Espanha. D. Henrique de Menezes casou com D. Maria da Glória da Cunha, que lhe sobreviveu até 1825, e de quem teve um filho, D. Luís de Menezes Silveira, nascido em 1780. Foi neste período que se estabeleceu a relação com Miguel Ângelo Lupi.
[10] V. documentos existentes nos arquivos da Nunciatura, em Lisboa, encontrando-se cópia de uma parte no arquivo particular de Frederico Lupi (ver Documento anexo II). V. também a já mencionada Grande Enciclopédia.
[11] Idem.
[12] Arquivos particulares de Frederico Lupi e de Maria José Lupi Caetano.
[13] Arquivos particulares de Maria José Lupi Caetano.
[18] Vide Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Joaquim José pediu escusa do lugar por ser incompatível com o cargo de Director Geral da Fazenda Pública.
[20] Vide Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.
[21] Arquivos particulares de Maria José Lupi Caetano (v. Documento Anexo VII). Sendo os filhos menores à data da sua morte, foram os bens dos menores administrados por sua tia Carlota e, por falecimento desta, por seu tio João Evangelista. Assumiu a sua educação Adelaide Lupi, sobrinha de Miguel Angelo.